Sunday, August 12, 2007

Quem é melhor professor: O especialista, o mestre ou o doutor?

Há algum tempo, conversava com uma professora sobre a qualidade dos professores universitários e ela me explicou algumas questões que pude comprovar no pós-graduação que estou fazendo. Por ter sido uma conversa particular, não irei divulgar a identidade dela, por se tratar de uma opinião que não sei se desejaria divulgar. Mas, que fique claro que a contestação é dela, que ressalto por ter sido uma ótima percepção em meu entender.

Na conversa falávamos dos professores de graduação e das suas titulações, se possuíam mestrado, especialização ou doutorado. A pergunta que fazia era se professores com baixa especialização, até sem mestrado, estariam aptos a lecionar na graduação, se poderiam garantir uma boa qualidade no ensino. Foi nesse momento que, além de confirmar que sim, ela afirmou que poderiam ser ainda melhores do que um mestre ou doutor.

O fato é que em cada grau acadêmico as necessidades dos alunos e expectativas dos professores são bem diferentes. Quando um professor está lecionando a graduandos, ele está preparando profissionais, ensinado os conceitos básicos de determinado campo. Ou seja, criando o alicerce intelectual dos seus respectivos alunos. Nesse momento, um professor com muita titulação e, conseqüentemente, um nível teórico superior, pode vir a preparar suas aulas esperando um aprofundamento dos alunos que não estão preparados para tal. Assim, tanto os alunos passam a achar as aulas chatas e complicadas por não possuírem a base, como o professor pode frustrar-se por pensar que não está conseguindo passar o conhecimento.

No pós, os professores com maior titulação têm muito mais retorno dos alunos, pois estão mais maduros intelectualmente e, principalmente, têm um nível de leitura mais elevado. O aluno não vai mais à aula para aprender o bê-á-bá e sim preparado, com leituras prévias e com certo domínio dos temas abordados. Com isso, a aula passa a ser mais uma conversa, onde se desenvolve raciocínio crítico. Enquanto isso, o próprio mestre estará desenvolvendo o seu raciocínio ao discutir com os alunos. Há um crescimento mútuo, o que na graduação ocorre mais na parte do aluno.

O fato me ocorreu, por ter tido nesse final de semana uma das melhores aulas que já participei, com um professor muito bem preparado, com total domínio do assunto. Pareceu-me mais uma conversa do que uma aula. Claro, que com o professor sendo o nosso guia para a discussão dos temas ali abordados. O mestre em questão foi, também, meu professor na graduação e nesse período eu não gostava das suas aulas, compreendia pouca coisa e era obrigado a recorrer a livros "básicos" para poder aprender o que ele estava tentando passar. Claro, eu precisava da base e não de um tema muito aprofundado em que não entendia nada.

Passo a compreender e indagar-me de alguns professores da graduação. Alguns que julgava não terem sidos bons professores. Será que num pós eles não se sairiam bem, de forma excepcional como têm sido as aulas desse meu professor atual?

Agora, entendo a que a professora se referia quanto ao nível acadêmico dos professores. Não quer dizer que eles são ruins, mas é que muitas vezes estão nos locais errados. Entretanto, é importante ressaltar que têm professores que são ótimos em qualquer nível, assim como tem outros que não deveriam ensinar nem no jardim de infância. Mas, esse é o sistema educacional brasileiro que ainda precisa evoluir muito, mesmo que já perceba uma grande melhora na qualidade do ensino de uns anos para cá.

Bom melhorar mesmo, pois essa é a única solução para o Brasil e mundo: mais educação.

Quanto ao meu atual professor, concluo que não era ele quem não estava preparado para as aulas da graduação. O problema era que ele estava preparado de mais e eu de menos.

5 comments:

Gabriela Zago said...

Fiquei com medo de comentar depois de ver esse aviso ali em cima... :P

Enfim... a gente teve uma discussão parecida sobre titulação de professores... em uma aula de GRADUAÇÃO com esse mesmo professor que te deu aula na pós. Ele comentava que, para as matérias práticas, é até prejudicial para o aluno que o professor tenha grandes titulações. O objetivo dessas matérias é passar o beabá da prática, e um professor muito teórico pode acabar formando alunos ótimos em reflexão crítica, mas péssimos em operar uma câmera, por exemplo. Mas, ainda segundo esse professor, não bastaria encher um curso de graduação só com professores profissionais apenas graduados, e deixar os alunos sem qualquer aprofundamento teórico. Por isso que as matérias mais densas teoricamente deveriam ser sempre ministradas por mestres e doutores. Faz sentido, não? :)
Daí os alunos de graduação ficam com dois caminhos a seguir - continuar estudante, e aprofundar a teoria na pós-graduação, ou então entrar para o mercado de trabalho, e se aperfeiçoar tecnicamente.

Gilberto Consoni said...

Não acho que os professores devam ser só profissionais, posso ter me expressado errado.

O que quis dizer é quanto à forma de ministrar as aulas. Os professores mais titulados, muitas vezes esquecem que os alunos não tiveram ainda contato com a base do conteúdo. Com isso, fica mais difícil para os alunos.

Sempre gostei da teoria, e me refiro ao nível de aprofundamento dela. Acho que na graduação deve ser mais básico mesmo, mas que a base fique muito bem solidificada. O aprofundamento só será na pós depois. Quanto às práticas, isso se aprende em laboratórios que tem durante o curso. Aula é para teoria mesmo :)

Gabriela Zago said...

Mas os laboratórios presspõem aulas praticas. Tipo, como disse esse professor, é mais relevante ter um professor que saiba tirar fotos, ou um grande teórico da fotografia??? Pra GRADUAÇÃO, o melhor é um grante fotógrafo, independente da titulação.

Quanto às aulas teóricas.. a gente precisa só do beaba na graduação mesmo... Mas do beabá dado por professores bem titulados.

Pelo que colocas no comentário, é mais uma questão de didática do que de titulação. Tem professores que simplesmente não sabem transmitir conhecimento, e isso independe da titulaçao adquirida.

Gilberto Consoni said...

Quanto ao profissional/acadêmico, acho que deve haver os dois. Um professor para passar a teoria, não esquecendo que é uma aula de Graduação. A prática pode ser ensinada até por um técnico. Por exemplo, na UCPel tem o Lino no laboratório de TV que tem total capacitação para ensinar tudo o que se precisa saber para manuseio dos equipamentos e ele faz isso muito bem. Agora, na aula é necessário ter-se um acadêmico para passar a teoria, explicar porque os planos e enquadramentos são importantes. Como você pode ser mais dramático num campo ou outro. Ou seja, de que forma comunicar através da imagem. Só que há toda outra parte de TV que deve ser ensinada. Que é à base da teoria da TV, dos seus conceitos, para que o aluno que desejar seguir a vida acadêmica saiba que são os autores e tal. O Bourdieu, por exemplo, fui conhecer esse autor por pesquisas próprias e nunca ouvi o nome de um autor se quer nas 3 disciplinas de TV que tive. Tem que haver um equilíbrio da teoria e da prática. O que não vejo ocorrer.

Gabriela Zago said...

Ainda acho que um aluno de graduação não precisa necessariamente saber todas as teorias da televisão - basta que saiba um pouco; e que tenha acesso à prática. :P